Minhas Opiniões

Escrever um livro sobre o cachimbo numa época de campanhas contra o fumo poderia parecer coisa muito atrevida aos não-fumantes, mas este livro é para os fumantes inveterados de cigarro, aqueles que não conseguem ou não querem parar de fumar, para aqueles que já fumam cachimbo e, enfim, para quem, também não sendo fumante, quer documentar-se sobre o cachimbo e suas relações com a vida privada e a história.

Este livro não pretende incentivar o fumo: quem não fuma é melhor que continue não fumando, porque não existe uma maneira de fumar que possa ser considerada sadia, e tanto o cigarro quanto o charuto e o cachimbo têm conseqüências prejudiciais para nosso corpo. Mas, ao mesmo tempo, o cachimbo é menos perigoso que o charuto e o cigarro e pode representar uma alternativa para os grandes fumantes, para ajudá-los a deixar o cigarro.

Conhecer as regras fundamentais para fumar cachimbo pode ajudar a minimizar os riscos para a saúde dos fumantes de cachimbo, como câncer de boca e problemas de dentes e gengivas.

Quem não gosta de fumar, mas apreciaria conhecer mais sobre o mundo dos apaixonados por cachimbo, poderá encontrar alguma resposta útil a suas curiosidades e apreciar um nicho cultural desconhecido: a cultura do cachimbo nas Américas é milenar, ligada à espiritualidade e às religiões.

Creio como muitos outros fumantes, ser justo informar aos fumantes sobre os riscos para a saúde e alertá-los para as conseqüências, mas ao mesmo tempo sou contra o fundamentalismo proibicionista. A lei seca que, a partir de 1920, proibiu nos Estados Unidos a venda e o consumo de álcool, levou a uma das mais perigosas ondas de criminalidade da história e fez brilhar a estrela de Al Capone, que construiu um império baseado no tráfico clandestino. Essa lei não só não diminuiu o número de alcoólatras, mas também aumentou os riscos para a saúde, devido ao consumo de bebida destilada de maneira imprópria, não controlada e não controlável pelas autoridades.

Se acham que ser intolerante com os fumantes, chamando-os de burros e de inimigos da sociedade seja coisa politicamente correta, veja bem e considere que os três principais fascistas da história, Adolf Hitler, Benito Mussolini e Francisco Franco eram todos ferrenhos inimigos do fumo, ao passo que os salvadores da democracia, Winston Churchill e Franklin Delano Roosevelt, eram fumantes respectivamente de charuto e de cachimbo. O nazista alemão achava que o fumo poderia prejudicar a saúde da pura raça ariana e dizia que o tabaco era a vingança do índio contra o homem branco que tinha prejudicado os nativos com o álcool. O pessoal da Gestapo e das SS era estritamente proibidos de fumar, e a única fumaça que o Führer amava era a das chaminés de Auschwitz., Dachau e os outros lugares onde ciganos e judeus eram exterminados.

Proibir o cultivo de tabaco é uma maneira dissimulada para proibir o fumo, facilitando o tráfico de tabaco estrangeiro, possivelmente cultivado com uso de dezenas de pesticidas ou criminosamente adicionado de princípios psicoativos, que poderiam formar novos clientes para o mundo do narcotráfico. Não seria melhor controlar o cultivo e evitar o uso de pesticidas, ajudando os fumicultores também financeiramente a desenvolver métodos de cultivo biológicos que limitem ou excluam o uso de pesticidas?!...

É bom lembrar que o prejuízo para a saúde da maioria dos pesticidas é amplamente documentado e infelizmente atinge também os tomates e as batatas que ninguém sonharia proibir.

Seria também melhor favorecer o fumo do cachimbo, documentadamente menos prejudicial, comparado ao fumo do cigarro, bem mais perigoso, mas o tabaco nacional para cachimbo é de baixa qualidade e a importação do exterior de marcas confiáveis está sendo dificultada com impostos que dissimulam uma vocação proibicionista.

O fumante de cachimbo deve basear-se numa ética de respeito aos outros, evitando fumar não só onde não é permitido, mas também onde, também sendo permitido, possa incomodar os outros. Ademais, o fumante de cachimbo não pode ser questionado sobre sua preferência quanto à escolha da sua qualidade de vida.

Esperando que este livro possa contribuir para a mútua tolerância e para estimular pesquisas sobre o assunto, agradeço a paciência de meus leitores, fumantes e não- fumantes de cachimbo.

Ferdinando Lombardo

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

MEERSCHAUM


O meerschaum ou espuma-do-mar

O nome deste material não tem nada a ver com o mar, sendo que é um mineral de magnésio e silício que, do ponto de vista químico, é um trissilicato-hidrato de magnésio – (H4Mg2Si3O10) –, conhecido como sepiolita. Esse mineral é encontrado em sua mais pura forma na Turquia, numa área de aproximadamente 10 km2, perto da cidade de Eskisehir (circulo e sublinhado verde no mapa), na Anatólia, em nódulos ou blocos, do tamanho médio de uma toronja, a profundidades de 30 a 100m. Depois di mais de três séculos de exploração a procura está fazendo-se mais difícil e é preciso escavar mais fundo para encontrar blocos adequados para cachimbos de bom tamanho; além disso, o numero de trabalhadores competentes está diminuindo porque deixam o trabalho para empregos mais lucrativos.

A fabricação dos cachimbos

Os blocos desse mineral leve, fofo e húmido, logo depois de extraídos, são selecionados e separados de acordo com a sua qualidade, limpados, mergulhados na parafina e cortados num esboço que aproxima a forma final do cachimbo; neste esboço é cavado o fornilho e perfurada a passagem do ar no cabo.

O esboço é colocado num forno de alta temperatura para remover toda a umidade e endurecer a peça que, em seguida, é entalhada na forma desejada: a esta altura a peça pode ser mergulhada de novo num banho de parafina liquida.

A piteira é inserida no cabo, geralmente por meio de uma rosca no cabo e de um parafuso na piteira. Cabeça e cabo são cuidadosamente polidos com abrasivos, até dar a aparência final.
O cachimbo polido (sem a piteira!) é mergulhado em cera de abelha líquida: a cera quente penetra nos poros microscópicos desse material; o banho pode ser repetido uma o mais vezes. É a cera de abelha que confere ao cachimbo de espuma a propriedade de mudar de cor quanto mais é fumado.



Formas e propriedades dos cachimbos de meerschaum

Os cachimbos de espuma são produzidos em todas as formas clássicas e também esculpidos nas formas mais variadas como cabeças de mouro, figuras mitológicas, retratos de personagens famosos e outras.

Os cachimbos de espuma do mar têm a característica de mudar de cor com o uso, passando do branco ou branco-amarelado inicial ao rosado, ao bege, ao bege, ao marrom, até chegar, depois de muito fumar, ao preto. O problema para quem está estreando um belo cachimbo de Meerschaum é decidir se quer curtir somente o gosto especial que tem o tabaco fumado nesse material ou se quer o prazer de possuir um cachimbo uniformemente colorido.

Se o sentido privilegiado é o gosto, não se preocupem, usem-no como se fosse de briar, encham o fornilho de tabaco, acendam, preferivelmente com um fósforo para não danificar o cachimbo, e fumem: o cachimbo em espuma não precisa da crosta de carvão e, portanto, pode ser carregado até o topo do fornilho desde o começo. Não se decepcionem com o gosto das primeiras fumadas, que cheiram a cera, conforme o tratamento que o cachimbo recebeu na fábrica; depois de quatro ou cinco fumadas poderão apreciar a delicadeza do gosto do tabaco.

Se o que se deseja é privilegiar a visão e pretender que o cachimbo ostente a mesma cor em todas suas partes, é necessário (precisa) muita paciência e muito desperdício de tabaco. O carregamento inicial do fornilho deve ser até o topo, e na primeira fumada, consumido somente a camada superficial do tabaco, chegando até 1,5cm de profundidade. O resto do tabaco é jogado fora. Aplica-se o mesmo procedimento nas fumadas seguintes, até que na parte superior externa da cabeça do cachimbo comece a aparecer uma cor rosada. A esta altura, pode-se começar a consumir o tabaco até a metade do fornilho. Quando a cabeça estiver rosada pela metade, pode-se consumir o tabaco até o fundo do fornilho.

Particularmente, nunca tive vontade de trilhar o longo caminho até adquirir um cachimbo de Meerschaum perfeito e uniformemente colorido, preferindo saborear o tabaco, especialmente daqueles encorpados como o Night Cap, da Dunhill. Mas parece que também no passado não eram muitos os donos de cachimbo de espuma com a paciência suficiente para colorir adequadamente o Meerschaum, surgindo, daí, uma profissão. Na Paris da metade do século 19, os cachimbos eram entregues a especialistas que, fumando sem parar, conseguiam devolver aos donos cachimbos de espuma com a coloração que eles realmente desejavam.

Limpeza e manutenção

A limpeza do cachimbo de Meerschaum é diferente da do cachimbo em briar, porquanto não se deve permitir a formação da camada de carvão ou bolo no interior do fornilho, o que afetaria a coloração, poderia provocar lesões no cachimbo e é desnecessária para a qualidade da fumada. Manuseando a cabeça do cachimbo com as mãos protegidas com luvas de algodão ou pelo menos a segurando com um lenço, eliminar cuidadosamente os restos de tabaco com a ajuda do alfinete ou, melhor, com um palito de madeira, limpando depois a parede com papel higiênico. De vez em quando se aconselha usar o raspador para remover a incrustação de carvão, operação que, devido à fragilidade do material, tem que ser feita com a máxima delicadeza. A limpeza da passagem do ar deve ser feita com uma escovinha seca ou apenas umedecida com água; o uso de líquidos alcoólicos deve ser evitado porque afeta as ceras com que é impregnado o cachimbo. A limpeza da piteira depende do material de que é feita. Se a piteira é de âmbar, material precioso usado somente para cachimbos de espuma valiosíssimos, o uso de álcool deve ser evitado, mas é permitido se a piteira é de outros materiais.

Depois de limpá-los os cachimbos devem ser guardados em seus próprios estojos, como aqueles na foto ao lado ou, em falta, em caixinhas forradas com pano.

Links

Koncak e Andreas Bauer

Museu do Cachimbo da Holanda

Esculturas maravilhosas em meerschaum


Cachimbo mágico

Um amigo escreve de Turim na Itália:
Olá Ferdinando,
parabéns pelo seu livro e “site” no web

quem escreve foi um fumador de cachimbo, sobretudo na época em que estudava na Universidade de Roma. O cachimbo, quente e perfumado, ajudava-me durante as longas esperas antes da abertura do portão da entrada à sala de aula, um grande anfiteatro que podia acolher quase 500 alunos. Eu começava fumando às seis horas e meia na manhã e continuava até às oito quando o professor entrava na sala. Eu e os outros alunos ficavamos em lugar aberto em frente do portão com qualquer tempo por uma hora; o calor do cachimbo aqueceva as minhas mãos. Eu gostava fumar o cachimbo e agora que não fumo mais desde 25 anos, gosto o perfumo do tabaco quando os outros fumam o cachimbo ao meu lado.,
Daniele
Turim ( Itália )
Resposta:
Caro Daniele,
o cachimbo faz lembrar de muita coisa porque tem mágica!
Depois de ler teu depoimento peguei o meu primeiro cachimbo , aquele mesmo com o qual aprendi a fumar e lembrei de uma fria noite de janeiro em Roma em que o cachimbo esquentava a minha mão esquerda e a mãozinha de uma garota esquentava a minha mão direita: além do cachimbo tenho ainda a garota que é minha esposa!
Um abraço
Ferdinando